Escrito por Márcia Valente

Frequentávamos a igreja, não com aquela constância imposta por ela, porém, sempre que podíamos, lá estávamos nas manhãs dominicais.

Por outro lado, também vivi em um lar, onde, vez por outra, pessoas reuniam-se, as sextas-feiras à noite para estudar o Evangelho segundo o Espiritismo.

Sem saber bem o que ocorria, pois não entendia tantas manifestações que aconteciam, eu gostava e achava interessante o que via e ouvia, e sempre que surgia oportunidade lá estava eu novamente, participando de outro encontro religioso.

Líamos o texto, comentávamos sobre ele, e depois de algumas mensagens, ajudávamos com vibrações àqueles que necessitavam de preces.

Entusiasmada e sem compreender mito do fenômeno em si, sentia-se útil de alguma forma, e assim…, minha vida dentro da doutrina começara.

Coisas “estranhas” aconteceram comigo desde muito cedo…

Em certas ocasiões, sentia-me amedrontada com tudo aquilo, ainda era criança e tinha medo, durante a noite cobria-me toda para me esconder, como se isso adiantasse…

Foi com o correr do tempo que passei a me dedicar mais a esses assuntos espirituais.

Comecei a ler livros e romances espiritas, a frequentar escolas para desenvolver os dons mediúnicos que diziam ser eu possuidora. Passei a me dedicar mais aos estudos e a me preocupar mais com o outro também. Queria ter a possibilidade de ajudar as pessoas de uma outra maneira…iniciava desse modo na doutrina de Kardec…

Hoje sei que todos nós somos médiuns mas, naquela época nem sabia o que era isso, a tal da mediunidade…

Organizei meus horários e comecei auxiliando na parte assistencial, distribuía o tempo entre o lar e o “meu povo”. Era assim que eu me referia aos assistidos carentes de cestas básica,… estavam carentes de alimentos mas muitos deles eram riquíssimos em espírito… aprendi muito.

O grupo ao qual me reportava promovia eventos e assim conseguíamos fundos para auxiliar 150 famílias carentes… até  então o meu trabalho era mais de voluntariado e de ajuda material, pensava eu…

Foi então que, casada e grávida de minha segunda filha, vivenciei uma experiência onde comprovaria não poder mais duvidar da existência de outro plano,  de maneira alguma… e senti que não poderia mais perder tempo para aprender mais e mais…

A partir daí sem dúvida alguma, passei a dar mais crédito e dar valores diferentes àquilo que antes não considerava tão importante, e passei a assustar os médicos que me operavam.

Embora ainda anestesiada, lembro-me bem de tudo, o que os médicos conversavam e o que falavam na sala cirúrgica. Em certo momento um deles gritou: “Estamos perdendo essa menina, por favor ajudem-me e chamava pelo meu nome como se fosse para eu acordar, não fuja, viu?

Senti e sinto até hoje, após 25 anos, uma sensação que não sai de minha cabeça, era como se algo muito fino e pontiagudo, (semelhante a um beliscão), perfurasse minha mão esquerda. Poderia ser talvez, uma injeção que estivessem me aplicando naquele momento, quem sabe, mas… Será que eu guardaria isso, após tantos anos?

Demorei a voltar da anestesia, permaneci na UTI por mais tempo do que deveria e horas mais tarde, levaram-me para o quarto.

Não sei ao certo quanto tempo se passara entre a cirurgia e o que vou narrar, mas foi uma experiência incrível. De repente, vi-me fora de meu corpo e ao lado de minha mãe que chorava nervosa e muito triste. Vi o meu corpo deitado ainda sobre a cama, sem entender bem como isso podia estar acontecendo.

Minha mãe andava desesperada pelo quarto e apertava os botões da campainha para chamar as enfermeiras, e eu sempre próxima a ela.

– “Meu Deus ela está tão sem cor, tão branca! Está alva como a parede do hospital”!

Aproximei-me dela e tentava abraçá-la (eu não sei como fiz isso!)

– “Mãe, eu estou bem, me escuta por favor, o problema é o soro é ele que me faz mal, peça para desligarem o soro.

Não adiantava, minha mãe não me ouvia, por quê?

Ela então, pôs-se a correr desesperada pelos corredores do hospital eu atrás dela, eu cada vez menos entendia o que ocorria.

– “Por que ela não me escuta?”

Ouvi, então chamarem o médico. Não sei quanto tempo se passou. Enfim ele chegou, era a mesma pessoa que tinha me operado.

Aproximei-me dele e repeti:

– “Doutor, é o soro que me faz mal, o soro não está me fazendo bem, mande desligá-lo, por favor!”

Imediatamente, ele deu a ordem de comando.

– “Suspendam o soro, já” e eu repentinamente, como se uma força grande demais me puxasse para dentro de mim mesma, voltava a meu corpo que continuava imóvel sobre a cama.

Para muitos talvez, esse ocorrido possa ser um simples fato e até um corriqueiro desdobramento, mas para mim naquele momento, foi de um valor imenso e de uma profundidade maior ainda. Eu, só de pensar e sentir a probabilidade de que poderia ter desencarnado naquele momento, me arrepio até hoje.

Fico imaginando e me perguntando: e se o médico não me estivesse escutado? Com tudo isso, passei a ver o mundo de forma diferente e a amar o Dom divino que Deus me deu, que se chama vida. Aprendi muito com toda essa experiência.

Deus existe?

Sem dúvida que sim.

Sinto hoje, como se uma nova oportunidade me fora dada para a vida, renasci com certeza, Deus assim quis.

Através do estudo doutrinário, que continuo fazendo, entendo agora a importância de sermos e estarmos sempre em boa sintonia.

Parece até meio piegas falar desse modo mas só quem viveu o que eu vivi percebe quão importante é estarmos bem calmos e tranquilos

Após ter passado por tudo isso, passei a amar mais a vida, esse Dom divino, que é viver, passei a crer mais na doutrina espírita, que é a única que me ajudou a entender um pouco esses fenômenos, passei a compreender que  nada somos, e a dar um valor diferente às coisas e a todos meus irmãos em Cristo. Passei a agradecer tudo o que Deus me dá, agradecer a oportunidade que recebemos de Deus para poder melhorar pela reforma íntima através da reencarnação, passei a ajudar mais, compreendi que estamos aprendendo e caminhando sempre, e que esse processo de evolução é infinito. Percebi que não existe tempo do outro lado, – no outro plano, disso eu tenho a certeza. Percebi também, que se eu quiser trabalhar para Jesus preciso ser, um canal limpo, um canal puro e sem resíduos negativos, puro e limpo no sentido de bons pensamentos de elevação espiritual, para poder assimilar qualquer possibilidade de auxílio que possa vir do outro lado.

Não podemos de modo algum estar em desequilíbrio emocional, pois eu vivenciei isso com minha mãe, sua aflição não me permitiu comunicar-me com ela, não permitiu também, que eu pudesse manifestar-me através dela para poder sair daquela situação.

Creio, hoje, que só com a calma necessária, poderá haver uma comunicação mais autêntica, principalmente em trabalhos espirituais em que haja comunicações dos espíritos, como psicografias, psicofonias etc.

Hoje, tento aproveitar todas as chances que Deus me oferece e que me são ofertadas pela própria vida.

Aprendi que é preciso ser e estar ligada e atenta(orar e vigiar), é necessário estar em conexão com o positivo, com as pessoas que cercam, amando-as, compreendendo-as, trocando dessa maneira, energias e aprendizados.

Caso contrário, com certeza, nenhum auxílio do plano maior receberei, e ainda poderei estar sujeita a brincadeiras daqueles menos evoluídos, coisa que obviamente não desejo.

Embora eu esteja em fase de aprendizado, pois sou humana, possuo defeitos e tenho minhas falhas, procuro melhorar a cada dia, vou caminhando e peço sempre o auxílio de Jesus para que me ampare nessa vigilância. Esse é o momento, o tempo é agora, é já. Essa é a minha oportunidade de crescer, evoluir, auxiliar e aprender: como diz Batuíra em um de seus livros psicografados por Chico Xavier.

Trabalhar servindo e servir trabalhando é o que mais desejo. Espero de coração que você sinta o mesmo.

Creia, eu também lhe amo.

Artigo publicado pela Revista CRE.