A misericórdia infinita de Deus, que é uma questão bíblica e, frequentemente, muito difundida pelos teólogos, só pode realmente existir, se as nossas chances de regeneração, a qual nos leva à salvação, perdurarem pelas eternidades afora, não deixando, pois, de existirem. Em outras palavras, as nossas oportunidades de regeneração e a consequente salvação, jamais podem cessar, caso contrário, capenga essa tão decantada misericórdia infinita de Deus!

E eis um exemplo, talvez ingênuo, mas que retrata o que estamos dizendo. Suponhamos que a misericórdia infinita de Deus seja uma emissora de rádio que transmitisse initerruptamente, por todas as eternidades e para todo o nosso planeta, mas que muitos aparelhos de rádio estivessem estragados e impossibilitados, pois, de receber a programação dela. Disso resultaria que seria, em vão, a transmissão dessa emissora de rádio para os ouvintes dos aparelhos estragados. Assim também, numa comparação com essa hipotética emissora de rádio e hipotéticos rádios estragados, se as oportunidades que temos de receber a misericórdia infinita de Deus, por algum motivo qualquer, deixassem de existir, tornar-se-ia nula essa tão decantada misericórdia infinita de Deus que, pois, deixaria de ser também infinita.

Mas quais são essas oportunidades de nós chegarmos, um dia, à nossa indispensável regeneração e à nossa consequente salvação ou libertação? A nossa mais importante oportunidade é a imortalidade da alma, imortalidade essa que está de acordo com a misericórdia infinita de Deus que é sempiterna. Na comparação feita, a rádio simboliza essa misericórdia infinita de Deus, que jamais cessa, e nós, figuradamente, somos como que os ouvintes que podemos receber através dos rádios, em qualquer momento das eternidades, a salvadora misericórdia infinita de Deus. E qual é a oportunidade maior e imprescindível que temos para a nossa salvação? Ei-la: a nossa evolução espiritual por meio das reencarnações, sem as quais não poderíamos chegar, jamais, à nossa regeneração ou estado de grau avançado de nossa evolução espiritual ou moral, que nos torna dignos de atravessarmos a simbólica ‘porta estreita’ evangélica da salvação.

Aliás, a própria palavra grega “palingenesia” para a regeneração significa também reencarnação (Tito 3: 5). E esse seu significado de reencarnação, segundo alguns tradutores, entre eles Pastorino, é o correto, apesar de, geralmente, os tradutores bíblicos tradicionais  evitarem o emprego dela. E não é necessário que se diga aqui a razão de eles não usarem essa palavra nas suas traduções, o que é um erro lamentável, pois é mais uma das muitas falsificações dos textos sagrados!

Além disso, essa própria palavra regeneração tem também outro sentido relativo a reencarnação, pois é no decorrer das vidas sucessivas que a nossa evolução espiritual e moral vai acontecendo, já que a nossa evolução é mesmo muito lenta, de acordo com as leis da Natureza que, como se diz, não dão saltos. Mas, também, se o indivíduo quiser, usando o seu livre-arbítrio, ele pode, numa só reencarnação, dar um gigantesco salto na sua evolução espiritual.

E, assim, encerrando essa coluna a respeito da misericórdia infinita de Deus, da nossa regeneração e da reencarnação, dizemos, em alto e bom som, que esses três ensinamentos bíblicos estão como que de mãos dadas e bem apertadas!

PS: Texto publicado na coluna do jornal O Tempo. Reprodução autorizada pelo autor