O termo ecumenismo tem origem no grego “oikoumene” que significa “o mundo civilizado”. Na Bíblia a palavra oikoumene é traduzida como “todo” e “universal”.

O Ecumenismo é um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquela não cristã.

A história da humanidade está repleta de acontecimentos que registram a intolerância religiosa.

De onde vem esta intolerância? Qual a origem deste desagradável comportamento humano?  Será que Jesus aprovaria tal conduta? Não necessitamos responder que não.

As denominadas guerras santas foram responsáveis por inúmeras mortes através dos registros encontrados na história.

A Guerra santa é um recurso extremista que as grandes religiões monoteístas têm usado ao longo dos tempos para proteger o que consideram ameaça aos seus dogmas e a seus lugares sagrados.

A origem das primeiras “guerras santas” já travadas na história se encontra no Islamismo e no Cristianismo, lamentavelmente.

Temos vários registros de guerras religiosas e neste sentido podemos relembrar resumidamente as que seguem:

Como primeiro registro temos a guerra santa islâmica quando em 622, “Maomé”, após ser ameaçado de morte, pelos opositores do islamismo, migrou de “Meca” para “Medina”, uma cidade 300 km ao norte de Meca, juntamente com seus seguidores. Maomé expandiu o islamismo por vários territórios, baseado nos deveres religiosos do Jihad, que tem sido interpretado como o dever de realizar “guerras santas”.

Durante a Idade Média, a igreja católica realizou as cruzadas que foram expedições militares, com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano que assumiram a forma de verdadeira “guerra santa”. Apesar de suas várias tentativas a igreja católica  só conseguiu conquistar Jerusalém, uma vez e no século XII, mas na verdade, foram os turcos que reconquistaram o domínio de Jerusalém.

Durante os séculos XVI e XVII, a Reforma Protestante espalhou-se pela Europa. Em países europeus, como  Alemanha e França, o protestantismo floresceu, e este acontecimento despertou a intolerância católica ocasionando diversas guerras entre católicos e protestantes.

Mais recentemente nos defrontamos com os conflitos na Irlanda do Norte e com o fundamentalismo de grupos radicais islâmicos envolvendo o mundo, como se tem verificado com os conflitos entre a Palestina e Israel.

Todos estes acontecimentos nos trazem reflexões sobre o porquê da necessidade do homem matar em nome de Deus e de Jesus.

Muitos vultos da humanidade têm se preocupado com a paz e o entendimento entre os homens. Este princípio humano tem total respaldo nas páginas do Evangelho. Jesus representa o grande roteiro de paz presente no nosso planeta, há dois mil anos. Só os que não conhecem nem vivem os seus ensinamentos agem com preconceitos para com o seu semelhante.

A Doutrina Espírita surge no século XIX na  França, com uma proposta de reforma interior e preparando o homem para a fraternidade universal.

Foi assim que em 1857, ela surgiu  codificada por Alan Kardec sob a direção do Espírito da Verdade.

Esta Doutrina traz em suas raízes o princípio filosófico da reforma interior e da Ciência como suporte principal.

Em 1861, a inquisição sob a pretensão incoerente de ser representante de Jesus,  moveu em Barcelona na Espanha, um ato de intolerância contra o Espiritismo atacando suas principais obras e no dia 9 de outubro daquele ano, foram queimados vários livros da recém lançada Doutrina. Entre as obras queimadas  podemos citar:“ Revue Spirite“, dirigida por Allan Kardec; “A Revista Espiritualista“, dirigida por Piérard; “O Livro dos Espíritos“, por Allan Kardec; “O Livro dos Médiuns“, por Allan Kardec; “O que é o Espiritismo?“, por Allan Kardec; “Fragmento de sonata“, atribuído ao Espírito de Mozart; “Carta de um católico sobre o Espiritismo“, pelo doutor Grand; “A História de Jeanne d’Arc“, atribuído a Joana d’Arc pela médium Ermance Dufaux; “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta“, pelo barão de Guldenstubbé.

Felizmente este ato de intolerância e perseguição não atingiu o seu objetivo, pois em vez de destruir  a doutrina espírita, constituiu-se  na maior divulgação que o Espiritismo poderia ter recebido naquela época.

Alan Kardec não desistiu de sua tarefa de codificação da Doutrina Espírita e buscou em Jesus a solução para todo e qualquer tipo de preconceito  e intolerância religiosa. Lançou em 12 de abril de 1864,  a sua maior obra cristã trazendo luzes de entendimento para a humanidade. Foi no Evangelho de Jesus que ele encontrou o suporte indispensável para o seu objetivo de unir pessoas de todas as crenças produzindo na sequência a obra que se constituiu no maior livro de harmonia entre as religiões, que se chama “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Kardec apresentou este livro como sendo o ponto onde todas as crenças poderiam se encontrar. Buscou com  o seu senso de ecumenismo, a união e a fraternidade como pontos indispensáveis para o entendimento entre as diversas correntes religiosas.

Sabemos que o fenômeno religioso é um dos quatro pilares da cultura humana, sendo os outros três, a Filosofia, a Arte e a Ciência. É nas instituições de ensino que se entra em contato com a ciência. O mesmo deveria ocorrer com as Religiões, patrimônio cultural de todos os povos e, como tal, matéria de estudo e pesquisa.

Nós devemos primar sempre pela busca do  conhecimento que abre a mente. A verdade e o conhecimento,  sempre nos libertarão do fundamentalismo religioso que é extremamente nocivo e prejudicial para o indivíduo e para a sociedade. Ele promove a intolerância, a dificuldade de relacionamento entre grupos, destrói a integração e o respeito mútuo, não admite opiniões divergentes e considera sua perspectiva isenta de erros.

Partindo do pressuposto que a ignorância é a mãe da intolerância, a maneira mais  correta de superar a ignorância, ou seja, o desconhecimento, e assim forjar a tolerância religiosa, é fomentar o conhecimento.

Particularmente temos conseguido algumas ações e experiências positivas em torno do entendimento entre as diversas correntes religiosas. Com a fundação do curso de Ciências das Religiões na UFPB, temos vivido muitos testemunhos de compreensão entre as diferenças religiosas. Particularmente, tenho levantado a tese de que não concebemos que alguém afirme  seguir Jesus e no entanto, não respeite nem ame o seu irmão,  apenas pelo simples fato dele pertencer a outra corrente religiosa, ainda mesmo que seja cristã.

Cada um de nós deve se empenhar no esforço de contribuir para a construção de uma sociedade harmoniosa e respeitosa para com os diferentes, fundamentada na ética e no amor pelo semelhante.

A Doutrina Espírita nos traz este suporte para o respeito e a fraternidade na convivência com o diferente. No Evangelho Segundo o Espiritismo Kardec levanta o ponto universal do entendimento entre os homens quando afirma: “Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais a parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra”.

Reflitamos sobre tão sábias e fraternas palavras de Kardec e nos interroguemos a respeito do que, como espírita, temos realizado em prol do entendimento e da fraternidade entre os diferentes. Pensar diferente de nós nunca deve significar ser contra nós. Jesus,  será sempre o nosso maior exemplo. Coloquemos ele em nossos corações, imitemos suas atitudes e plantemos junto aqueles que nos cercam a semente plena da PAZ.