São Paulo disse que a salvação é de graça. Mas como na Bíblia, segundo ele próprio, temos que ter cuidado com as interpretações ao pé da letra, essa questão tem provocado muitas polêmicas, desde os primórdios do cristianismo. Santo Agostinho defendeu muito esse ensino paulino, que foi também muito defendido por Lutero, daí que os protestantes e evangélicos são muito ligados à salvação pela graça. Já a Igreja foi sempre reservada com esse ensino, não o interpretando literalmente. Esse tema até que já foi abordado em outras matérias desta coluna, mas sempre ele surge nos comentários de minhas matérias, no Portal de O TEMPO, como se diz, ‘dando pano pra manga’, sugestionando-me, pois, a tratar novamente desse tema nessa coluna. Aliás, esse espaço dos comentários sobre ela, no final das matérias, como vários de seus leitores têm dito, se transformou no maior fórum de religiões em jornais da América Latina.

  Essa salvação gratuita de Paulo, que não é bem de graça, pois ele próprio fala-nos que, por mérito, uns recebem também um galardão (1 Coríntios 3:8). Assim, ela deve ser entendida no sentido de que ela é dada para todos os seres humanos sem exceção, pois, realmente, Deus não faz acepção de ninguém, ensina Pedro (Atos 10: 34). Assim, ela é gratuita como se fosse uma vacina de graça contra uma epidemia que o Governo dá para todo mundo. Mas é claríssimo, como a luz solar do meio dia, que só recebem a vacina os que a quiserem receber. Também a salvação só a ganham gratuitamente os que, em dado momento das eternidades de seu espírito, se predispõem a recebê-la, pois Deus, por ser perfeito, respeita rigorosamente o livre-arbítrio de todos.

   E essa graça divina procede do atributo do amor infinito de Deus para com todos os seus filhos humanos. Tal atributo, justamente por ser infinito, não cessa jamais. Então, quando, pelo seu livre-arbítrio, o indivíduo ainda não se predispõe a receber a graça da sua salvação, ele fica sem ela, temporariamente, até que chegue o momento de ele querer recebê-la. E, para isso, o seu espírito jamais terá suas oportunidades limitadas para receber a salvação gratuita, pois, como já o dissemos, ela não cessa jamais como não cessa jamais, também, nenhum dos outros atributos de Deus. E, para que tudo de Deus dê certo “ad infinitum”, é que o espírito do homem foi criado imortal e reencarna, quantas vezes forem necessárias, para que ele, até que, enfim, resolva, pelo seu sagrado livre-arbítrio, a receber gratuitamente a sua salvação ou, como dizem os espíritas, a sua libertação, não precisando, pois, mais de reencarnar. De fato, sem essa nossa disposição, fruto do nosso livre-arbítrio tão sagrado e tão respeitado por Deus, de recebermos a salvação de graça, ela não acontecerá. Mas, um dia, ela ocorrerá, quando pelo nosso livre-arbítrio, quisermos recebê-la, ou seja, quando quisermos vivenciar de fato o ensino evangélico. Deus é paciente, e tanto Ele como nós temos pela frente as eternidades sem fim, sempre com outra se iniciando, quando uma cessa. Realmente, tudo que Deus faz, dentro das eternidades, um dia, dará certo.

   Como vimos, não é bem totalmente de graça nossa salvação. E, se apenas um só espírito fosse condenado para sempre, irremediavelmente, tanto ela, a graça, como a misericórdia e o amor infinitos de Deus para com todos nós, tudo isso tão decantado iria para o beleléu!